FAMERP 2023: Português
01. (FAMERP 2023) Examine a tirinha de Dik Browne, publicada na conta do Instagram “Hagar, o Horrível”, em 01.04.2022.
Para produzir o seu efeito de humor, a tirinha mobiliza o seguinte recurso expressivo:
- eufemismo.
- personificação.
- antítese.
- sinestesia.
- hipérbole.
Leia o soneto de Leonor de Almeida Portugal Lorena e Lencastre, também conhecida como Marquesa de Alorna, para responder às questões de 02 a 05.
Feliz esse mortal que se contenta
Com a herdade¹ dos seus antepassados,
Que livre de tumulto e de cuidados
Só do pão que semeia se alimenta.
Dentre os filhos amados afugenta
A discórdia cruel; vê dos seus gados,
Sempre gordos, alegres, bem tratados,
Numeroso rebanho que apascenta.
O trono mais ditoso é comparável
Ao brando estado deste que não sente
De um espectro de ouro o peso formidável?
O que vive na Corte mais contente
Provou nunca um prazer tão agradável
Como o deste Pastor pobre, inocente?
(Sonetos, 2007.)
¹herdade: propriedade rural de dimensões consideráveis; fazenda.
02. (FAMERP 2023) No soneto, está implícita uma crítica à
- compaixão.
- indolência.
- penúria.
- luxúria.
- ganância.
03. (FAMERP 2023) Uma característica da estética árcade presente no soneto é
- o desprezo pelo rigor formal.
- o elogio da vida campestre.
- a ênfase na expressão subjetiva.
- o tom socialmente engajado.
- a referência a entidades mitológicas.
04. (FAMERP 2023) O termo sublinhado na primeira estrofe refere-se a
- “antepassados”.
- “herdade”.
- “livre”.
- “mortal”.
- “pão”.
05. (FAMERP 2023) Verifica-se rima entre palavras de classes gramaticais diferentes em
- “afugenta”/“apascenta” (2ª estrofe).
- “gados”/“tratados” (2ª estrofe).
- “antepassados”/“cuidados” (1ª estrofe).
- “contente”/“inocente” (4ª estrofe).
- “contenta”/“alimenta” (1ª estrofe).
Leia a crônica “José de Nanuque”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder às questões de 06 a 10.
Como se não bastasse o excesso de população deste mundo, os homens estão detectando a existência de outros mundos habitados, no espaço sideral, e suspiram, emocionados: “Não estamos sós”. E quem disse que estamos sós, se andamos tão acotovelados pelas avenidas da Terra? Pois, como se tudo isso não fosse suficiente, correm às matas de Nanuque e de lá retiram à força José Pedro dos Santos, último promeneur solitaire¹ de que havia notícia, o homem que vivia com uma fogueira acesa, espantando onça e, sobretudo, gente.
— Venha, rapaz! Queremos que participe das maravilhas da civilização!
— Vocês me arranjam casa pra morar?
— Bem, isso atualmente está difícil, José.
— Emprego?
— Só se você for concursado, e houver vaga.
— E comida?
— Depois nós conversamos. Venha depressa, estão nos chamando de outras galáxias!
José recalcitra: estava tão bem ali! Não paga aluguel, não preenche o formulário do imposto de renda, não faz fila para nada, não tem horário nem patrão, come carne variada, segunda-feira paca, terça peixe, quarta aves, quinta raízes e tubérculos, sexta frutas, sábado...
— Mais uma razão para vir. Está desfrutando privilégios, e todos são iguais perante a lei!
Outra razão forte: os fazendeiros de Nanuque reclamavam contra esse homem estranho, embrenhado no mato, fazendo Deus sabe lá o quê. Em vão José alega que os ajuda, espantando onça com seu facho noturno. As onças não devem ser espantadas, sustentam a beleza selvagem da região. Esse homem não trabalha na lavoura, como os outros; não produz, não rende, e, embora não pese a ninguém, pesa globalmente no espírito de todos, com seu mistério. O fato de não produzir não é o mais grave; tolera-se cá fora, à luz do dia, honradamente: mas no interior da mata? Que ideia faz esse sujeito do contrato social? Nenhuma. Está se ninando para o contrato social. Não é possível. Tragam José para perto de nós, ele tem de aprender ou reaprender a vida apertada que levamos.
José tem medo. Os homens, as cidades, os códigos, até os prazeres intervalares dos civilizados lhe dão medo. O motor de sua volta ao estado natural foi menos o amor à natureza do que o pânico. Em cada homem vê um perigo, em cada situação uma ameaça, em cada palavra uma condenação. Com as árvores e os bichos ele se entende. Nu e experimentado, conhece e domina o ambiente em que vive sem maiores riscos. Na cidade não praticara ação criminosa, e foi isso precisamente que o fez embrenhar-se na mata. Inocente, faltavam-lhe as provas negativas de sua inocência; se cometesse qualquer malfeito, poderia mentir e salvar-se, mas, estando puro e desarmado diante do sistema, como mentir, senão confessando a falta imaginária, e, portanto, condenando-se? A solução era virar bicho. Virou, com êxito.
Agora trazem José para a capital, incorporam-no ao estranho maquinismo, ao estatuto sombrio, inexplicável; ele é condenado a viver como os outros, no grau inferior. José está salvo ou perdido? O certo é que nunca mais brilhará, na mata de Nanuque, aquele foguinho solitário.
Todos são iguais perante a lei.
Não estamos sós.
(Carlos Drummond de Andrade. Caminhos de João Brandão, 2016.)
¹promeneur solitaire: caminhante solitário.
06. (FAMERP 2023) De acordo com o cronista, a razão de José de Nanuque ter se afastado da civilização foi, sobretudo,
- o crime que havia cometido quando ainda jovem.
- a rotina enfadonha e sombria da vida nas cidades.
- o amor incondicional à natureza.
- a paixão pelas coisas simples da vida.
- a sensação de estar em risco junto aos homens.
07. (FAMERP 2023) “Esse homem não trabalha na lavoura, como os outros; não produz, não rende, e, embora não pese a ninguém, pesa globalmente no espírito de todos, com seu mistério. O fato de não produzir não é o mais grave; tolera-se cá fora, à luz do dia, honradamente: mas no interior da mata?” (11º parágrafo)
Nesse trecho, o cronista ressalta o incômodo dos fazendeiros
- com o desconhecido.
- com o desemprego.
- com a ociosidade.
- com a pobreza.
- com a marginalidade.
08. (FAMERP 2023) O cronista inclui o leitor em sua narrativa no seguinte trecho:
- “— Mais uma razão para vir. Está desfrutando privilégios, e todos são iguais perante a lei!” (10º parágrafo)
- “— Venha, rapaz! Queremos que participe das maravilhas da civilização!” (2º parágrafo)
- “Os homens, as cidades, os códigos, até os prazeres intervalares dos civilizados lhe dão medo.” (12º parágrafo)
- “E quem disse que estamos sós, se andamos tão acotovelados pelas avenidas da Terra?” (1º parágrafo)
- “Agora trazem José para a capital, incorporam-no ao estranho maquinismo, ao estatuto sombrio, inexplicável; ele é condenado a viver como os outros, no grau inferior.” (13º parágrafo)
09. (FAMERP 2023) Verifica-se o emprego de vírgula para separar um vocativo no seguinte trecho:
- “Virou, com êxito.” (12º parágrafo)
- “Venha depressa, estão nos chamando de outras galáxias!” (8º parágrafo)
- “Bem, isso atualmente está difícil, José.” (4º parágrafo)
- “O certo é que nunca mais brilhará, na mata de Nanuque, aquele foguinho solitário.” (13º parágrafo)
- “Só se você for concursado, e houver vaga.” (6º parágrafo)
10. (FAMERP 2023) Em “— Mais uma razão para vir. Está desfrutando privilégios, e todos são iguais perante a lei!” (10º parágrafo), a palavra sublinhada expressa ideia de
- comparação.
- consequência.
- finalidade.
- causa.
- adição.
Gabarito |
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1. C | 2. E | 3. B | 4. D | 5. B |
6. E | 7. A | 8. D | 9. C | 10. C |