Fuvest 2021: Português
1. (Fuvest 2021) TEXTO PARA AS QUESTÕES 68 E 69.
Romance LIII ou Das Palavras Aéreas
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai, palavras,
sois de vento, ides no vento,
no vento que não retorna,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!
Sois de vento, ides no vento,
e quedais, com sorte nova! (...)
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Perdão podíeis ter sido!
— sois madeira que se corta,
— sois vinte degraus de escada,
— sois um pedaço de corda...
— sois povo pelas janelas,
cortejo, bandeiras, tropa...
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Éreis um sopro na aragem...
— sois um homem que se enforca!
(Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência)
A “estranha potência” que a voz lírica ressalta nas palavras decorre de uma combinação entre
- fluidez nos ventos do presente e conteúdo fixo no passado.
- forma abstrata no espaço e presença concreta na história.
- leveza impalpável na arte e vigor nos documentos antigos.
- sonoridade ruidosa nos ares e significado estável no papel.
- lirismo irrefletido da poesia e peso justo dos acontecimentos.
2. (Fuvest 2021) Alferes, Ouro Preto em sombras
Espera pelo batizado,
Ainda que tarde sobre a morte da sonhador
Ainda que tarde sobre as bocas da traidor.
Raios de sol brilharão nos sinos:
Dez vias dar.
Ai Marília, os liras e o amar
Não posso mais sufocar
E a minha voz irá
Pra muita além do desterro e do sal,
Maior que a voz do rei.
(Aldir Blanc e João Bosco, trecho da canção “Alferes”, de 1973.)
A imagem de Tiradentes — a quem Cecília Meireles qualificou “o Alferes imortal, radiosa expressão dos mais altos sonhos desta cidade, do Brasil e do próprio mundo”, em palestra feita em Ouro Preto — torna a aparecer como símbolo da luta pela liberdade em vários momentos da cultura nacional, Os versos do letrista Aldir Blanc evocam, em novo contexto, o mártir sonhador para resistir ao discurso
- da doutrina revolucionária de ligas politicamente engajadas.
- da historiografia, que minimizou a importância de Tiradentes.
- de autoritarismo e opressão, próprio da ditadura militar.
- dos poetas árcades, que se dedicavam às suas liras amorosas.
- da tirania portuguesa sobre os mineradores no ciclo do ouro.
3. (Fuvest 2021) TEXTO PARA AS QUESTÕES 68 E 69.
Romance LIII ou Das Palavras Aéreas
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai, palavras,
sois de vento, ides no vento,
no vento que não retorna,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!
Sois de vento, ides no vento,
e quedais, com sorte nova! (...)
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Perdão podíeis ter sido!
— sois madeira que se corta,
— sois vinte degraus de escada,
— sois um pedaço de corda...
— sois povo pelas janelas,
cortejo, bandeiras, tropa...
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Éreis um sopro na aragem...
— sois um homem que se enforca!
(Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência)
Ao substituir a pessoa verbal utilizada para se referir ao substantivo “palavras” pela 3.ª pessoa do plural, os verbos dos versos “sois de vento, ides no vento,” (v. 4) / “Perdão podíeis ter sido!” (v. 12)! “Éreis um sopro na aragem (v. 20) seriam conjugados conforme apresentado na alternativa:
- são, vão, podiam, eram.
- seriam, iriam, podiam, serão.
- eram, foram, poderiam, seriam.
- são, vão, poderiam, eram.
- eram, iriam, podiam, seriam.
4. (Fuvest 2021) As respostas do narrador às perguntas de Leusipo são uma tentativa de disfarçar o caráter
- fabular do romance, inspirado nas lendas e tradições dos Krahô.
- investigativo do romance, embasado em testemunhos dos Krahô.
- político do romance, a respeito das condições de vida dos Krahô.
- etnográfico do romance, através do registro da cultura dos Krahô.
- biográfico do romance, relatando sua vivência junto aos Krahô.
5. (Fuvest 2021)
As vírgulas em “E depois, o silêncio.” (L. 1-2) e em “Mas seu rosto continua sorrindo, para sempre.” (L. 2-3) são usadas, respectivamente, com a mesma finalidade que as vírgulas em
- “Após a queda, tomaram mais cuidado.” e “Quanto mais espaço, mais liberdade.”.
- “Aos estrangeiros, ofereceram iguanas.” e “Limpavam a casa, e preparávamos as refeições.”.
- “Colheram trigo e nós, algodão.” e “Eles se encontraram nas férias, mas não viajaram.”.
- “Para meus amigos, o melhor.” e “Organizava tudo, cautelosamente..
- “Viu o espetáculo, considerado o maior fenômeno de bilheteria.” e “‘Conheço muito bem’, afirmou o rapaz.”
6. (Fuvest 2021)
Remissão
Tua memória, pasto de poesia,
tua poesia, pasto dos vulgares,
vão se engastando numa coisa fria
a que tu chamas: vida, e seus pesares.
Mas, pesares de quê? perguntaria,
se esse travo de angústia nos cantares,
se o que dorme no base da elegia
vai correndo e secando pelos ares,
e nada resta, mesmo, do que escreves
e te forçou ao exílio das palavras,
senão contentamento de escrever,
enquanto o tempo, e suas formas breves
ou longas, que sutil interpretavas,
se evapora no fundo do teu ser?
Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma.
Claro enigma apresenta, por meio do lirismo reflexivo, o posicionamento do escritor perante a sua condição no mundo.
Considerando-o como representativo desse seu aspecto, o poema “Remissão”
- traduz a melancolia e o recolhimento do eu lírico em face da sensação de incomunicabilidade com uma realidade indiferente à sua poesia.
- revela uma perspectiva inconformada, mesclando-a, livre da indulgência dos anos anteriores, a um novo formalismo estético.
- propõe, como reação do poeta à vulgaridade do mundo, uma poética capaz de interferir na realidade pelo viés nostálgico.
- reflete a visão idealizada do trabalho do poeta e a consciência da perenidade da poesia, resistente à passagem do tempo.
- realiza a transição do lirismo social para o lirismo metafísico, caracterizado pela adesão ao conforto espiritual e ao escapismo imaginativo.
7. (Fuvest 2021)
Em “Seu carisma seduziu a editora DC Comics, que impôs o acréscimo de um quadrinho.” (L. 16-17), o vocábulo “que” possui a mesma função sintática desempenhada no texto por
- “Imóvel” (L. 2).
- “Robin” (L. 6).
- “seus pais” (L. 12).
- “se” (L. 15).
- “vivo”(L. 20).
8. (Fuvest 2021)
— Posso furar os olhos do povo?
Esta frase besta foi repetida muitas vezes e, em falta de coisa melhor, aceitei-a. Sem dúvida. As mulheres hoje não vivem como antigamente, escondidas, evitando os homens. Tudo é descoberto, cara a cara. Uma pessoa topa outra. Se gostou, gostou; se não gostou, até logo. E eu de fato não tinha visto nada. As aparências mentem. A terra não é redonda? Esta prova da inocência de Marina me pareceu considerável. Tantos indivíduos condenados injustamente neste mundo ruim! O retirante que fora encontrado violando a filha de quatro anos — estava aí um exemplo. As vizinhas tinham visto o homem afastando as pernas da menina, todo o mundo pensava que ele era um monstro. Engano. Quem pode lá jurar que isto é assim ou assado? Procurei mesmo capacitar-me de que Julião Tavares não existia. Julião Tavares era uma sensação. Uma sensação desagradável, que eu pretendia afastar de minha casa quando me juntasse àquela sensação agradável que ali estava a choramingar.
Graciliano Ramos, Angústia.
Em termos críticos, esse fragmento permite observar que, no plano maior do romance Angústia, o ponto de vista
- se acomoda nos limites da vulgaridade.
- tenta imitar a retórica dos dominantes.
- reproduz a lógica do determinismo social.
- atinge a neutralidade do espírito maduro.
- revira os lados contrários da opinião.
9. (Fuvest 2021) I
— Traiste-me, Sem Medo. Tu traiste-me.
(...)
Sabes a que tu és afinal, Sem Medo? És um ciumenta. Chego a pensar se não és homossexual. Tu querias-me só, cama tu. Um solitária do Mayambe. (...) Desprezo-te.
(...) Nunca me verás atrás de uma garrafa vazia. (...) Cada sucesso que eu tiver, será a paga da tua bafetada, pais não serei um falhada camo tu.
Pepetela, Moyombe. Adaptado.
II
— Peço-te perdão, Sem Medo. Não te compreendi, fui um imbecil. E quis igualar o inigualável.
Pepetela, Moyombe.
Esses excertos de Mayombe referem-se a conversas entre as personagens Comissário e Sem Medo em momentos distintos do romance. Em I e II, as falas do Comissário revelam, respectivamente,
- incompatibilidade étnica entre ele e Sem Medo, por pertencerem a linhagens diferentes, e superação de sua hostilidade tribal.
- decepção, por Sem Medo não ter intercedido a seu favor na conversa com Ondina, e desespero diante do companheiro baleado.
- suspeita de traição de Ondina e tomada de consciência de que isso não passara de uma crise de ciúme dele.
- forte tensão homoafetiva entre ele e Sem Medo, e aceitação da verdadeira orientação sexual do companheiro.
- ira, diante do anticatolicismo de Sem Medo, e culpa que o atinge ao perceber que sua demonstração de coragem colocara o companheiro em risco.
10. (Fuvest 2021) Na cena apresentada, que explora o desconforto gerado pela difícil interlocução com o indígena, o narrador
- abandona a ideia de investigar o passado, ao se ver encurralado por Leusipo.
- explora a sua posição ameaçadora de homem branco, ao insistir em permanecer na aldeia.
- age com ousadia, ao procurar subjugar Leusipo a contribuir com o seu projeto.
- identifica-se com a sabedoria de Leusipo, ao preterir do papel interrogativo e se deixar questionar.
- sente-se frustrado com a reação de Leusipo, que não se deixa levar por sua diplomacia.
11. (Fuvest 2021)
Na oração “que ela dura” (v. 4), o pronome sublinhado
- não tem referente.
- retoma a palavra “usina” (v. 1).
- pode ser substituído por “ele”, referindo-se a “açúcar” (v. 1).
- refere-se à “mais instável das brancuras” (v. 2).
- equivale à palavra “censura” (v. 10).
12. (Fuvest 2021)
No fragmento “ao tropeçar, cravava sua própria adaga no peito.” (L. 10), a oração em negrito abrange, simultaneamente, as noções de
- proporção e explicação.
- causa e proporção.
- tempo e consequência.
- explicação e consequência
- tempo e causa.
13. (Fuvest 2021) O efeito de humor presente nas falas das personagens decorre
- da quebra de expectativa gerada pela polissemia.
- da ambiguidade causada pela antonímia.
- do contraste provocado pela fonética.
- do contraste introduzido pela neologia.
- do estranhamento devido à morfologia.
14. (Fuvest 2021) Rubião fitava a enseada, — eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos no cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço de água quieta; mas em verdade vos digo que pensava em outra coisa.
Cotejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora! Capitalista. Olha para si, para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade.
– Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, pensa ele. Se mana Piedade tem casado com Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral. Não casou; ambos morreram, e aqui está tudo comigo; de modo que o que parecia uma desgraça...
Machado de Assis, Quincas Borba.
O primeiro capítulo de Quincas Borba já apresenta ao leitor um elemento que será fundamental na construção do romance:
- a contemplação das paisagens naturais, como se lê em “ele admirava aquele pedaço de água quieta”.
- a presença de um narrador-personagem, como se lê em “em verdade vos digo que pensava em outra coisa”.
- a sobriedade do protagonista ao avaliar o seu percurso, como se lê em “Cotejava o passado com o presente”.
- o sentido místico e fatalista que rege os destinos, como se lê em “Deus escreve direito por linhas tortas”.
- a reversibilidade entre o cômico e o trágico, como se lê em “de modo que o que parecia uma desgraça...”.
15. (Fuvest 2021)
Os últimos quatro versos do poema rompem com a série de contrapontos entre a usina e o banguê, pois
- negam haver diferença química entre o açúcar cristal e o açúcar mascavo.
- esclarecem que a aparência do açúcar varia com a espécie de cana cultivada.
- revelam que na base de toda empresa açucareira está o trabalhador rural.
- denunciam a exploração do trabalho infantil nos canaviais nordestinos.
- explicam que a estação do ano define em qualquer processo o tipo de açúcar.
16. (Fuvest 2021) TEXTO PARA AS QUESTÕES 72 A 74.
Leusipo perguntou o que eu tinha ido fazer na aldeia. Preferi achar que o tom era amistoso e, no meu insistência bovina, ingênuo, comecei a lhe explicar o que era um romance. Eu tentava convencê-lo de que não havia motivo para preocupação. Tudo o que eu queria saber já era conhecido. E ele me perguntava: “Então, porque você quer saber, se já sabe?” Tentei lhe explicar que pretendia escrever um livro e mais uma vez o que era um romance, o que era um livro de ficção (e mostrava o que tinha nas mãos), que seria tudo historinha, sem nenhuma consequência na realidade. Ele seguia incrédulo. Faziase de desentendido, mas na verdade só queria me intimidar. As minhas explicaçães sobre o romance eram inúteis. Eu tentava dizer que, para os brancos que não acreditam em deuses, a ficção servia de mitologia, era o equivalente dos mitos dos índios, e antes mesmo de terminar a frase, já não sabia se o idiota era ele ou eu. Ele não dizia nada a não ser: “O que você quer com o passado?”. Repetia. E, diante da sua insistência bovina, tive de me render à evidência de que eu não sabia responder à sua pergunta.
(Bernardo Carvalho, Nove Noites. Adaptado.)
Sem prejuízo de sentido e fazendo as adaptações necessárias, é possível substituir as expressões em destaque no texto, respectivamente, por
- incompreensão; armação; inofensivo; irredutível.
- altivez; brincadeira; ofendido; mansa.
- ignorância; mentira; prejudicado; alienada.
- complacência; invenção; bobo; cega.
- arrogância; entretenimento; incapaz; animalesca.
17. (Fuvest 2021) Terça é dia de Veneza revelar as atrações de seu festival anual, cuja 77.ª edição começa no dia 2 de setembro, com a dromédia “Lacci”, do romano Daniele Luchetti, seguindo até 12/9, com 50 produções internacionais e uma expectativa (extraoficial) de colocar “West Side Story”, de Steven Spielberg, na ribalta.
Rodrigo Fonseca. “À espera dos rugidos de Veneza”. O Estado de S. Paulo. Julho/2020. Adaptado.
Um processo de formação de palavras em língua portuguesa é o cruzamento vocabular, em que são misturadas pelo menos duas palavras na formação de uma terceira.
A força expressiva dessa nova palavra resulta da síntese de significados e do inesperado da combinação, como é o caso de “dramédia” no texto.
Ocorre esse mesmo tipo de formação em
- “deleitura” e “namorido”.
- “passatempo” e “microvestido”.
- “hidrelétrica” e “sabiamente”.
- “arenista” e “girassol”.
- “planalto” e “multicor”.