Santa Casa 2023: História
21. (Santa Casa) No século IV depois de Jesus Cristo, a religião cristã tornou-se preponderante no Império romano de Bizâncio. Em 391, o imperador Teodósio I decretou o fechamento de todos os templos pagãos do Império. No Egito, os fiéis dos antigos deuses e deusas do país eram provavelmente pouco numerosos, mas o fechamento dos templos teve uma consequência inesperada: a escrita hieroglífica, ainda viva até aquele momento, deixou rapidamente de ser compreendida.
(Jean Vercoutter. A la recherche de L´Égypte oubliée, 1986. Adaptado.)
As ocorrências mencionadas no excerto.
- aboliram os conteúdos religiosos do conjunto das representações artísticas.
- tiveram consequências socioculturais limitadas às civilizações da Antiguidade.
- implicaram transformações históricas com mudanças culturais profundas.
- resultaram da imposição de uma unidade linguística aos territórios conquistados.
- derivaram do cumprimento dos princípios bíblicos originais pelos chefes de Estado.
Leia o excerto para responder às questões 22 e 23.
Antes de sua publicação em 1572, o poema Os Lusíadas de Luís de Camões foi submetido à leitura e à censura de Frei Bartolomeu Ferreira, membro da Santa Inquisição em Portugal.
Vi por mandado da Santa e Geral Inquisição esses dez Cantos dos Lusíadas de Luís de Camões, dos valorosos feitos em armas que os Portugueses fizeram em Ásia, e Europa, e não achei neles coisa alguma escandalosa, nem contrária à fé e aos bons costumes [...]. O autor para encarecer a dificuldade da navegação e entrada dos portugueses na Índia usa de uma ficção dos Deuses dos Gentios. [...] Todavia, como isso é Poesia e fingimento, o autor como poeta não pretende mais que ornar o efeito Poético, não tivemos por inconveniente ver esta fábula dos Deuses na obra, conhecendo-a por tal, e ficando sempre salva a verdade de nossa Santa fé, que todos os deuses dos Gentios são Demônios.
(Luís de Camões. Os Lusíadas, 1572. Adaptado.)
22. (Santa Casa) Observando a maneira como o poeta orna “o efeito Poético”, conclui-se que o poema
- ressuscita os ritos do paganismo greco-romano no período de vigência da arte barroca da Europa Ocidental.
- procura demonstrar a superioridade da literatura portuguesa sobre os modelos de inspiração da Antiguidade.
- sintetiza o mundo clássico com o monoteísmo cristão de acordo com os padrões culturais do Renascimento.
- denuncia a ausência de liberdade de expressão nas monarquias absolutistas da Idade Moderna.
- exalta o pacifismo dos portugueses como expressão da mentalidade do teocentrismo medieval.
Leia o excerto para responder às questões 22 e 23.
Antes de sua publicação em 1572, o poema Os Lusíadas de Luís de Camões foi submetido à leitura e à censura de Frei Bartolomeu Ferreira, membro da Santa Inquisição em Portugal.
Vi por mandado da Santa e Geral Inquisição esses dez Cantos dos Lusíadas de Luís de Camões, dos valorosos feitos em armas que os Portugueses fizeram em Ásia, e Europa, e não achei neles coisa alguma escandalosa, nem contrária à fé e aos bons costumes [...]. O autor para encarecer a dificuldade da navegação e entrada dos portugueses na Índia usa de uma ficção dos Deuses dos Gentios. [...] Todavia, como isso é Poesia e fingimento, o autor como poeta não pretende mais que ornar o efeito Poético, não tivemos por inconveniente ver esta fábula dos Deuses na obra, conhecendo-a por tal, e ficando sempre salva a verdade de nossa Santa fé, que todos os deuses dos Gentios são Demônios.
(Luís de Camões. Os Lusíadas, 1572. Adaptado.)
23. (Santa Casa) As observações do censor e o conteúdo do poema expõem
- o atraso histórico do reino português no continente europeu e a irrelevância das descobertas ultramarinas para a economia europeia.
- a expansão dos limites geográficos da sociedade portuguesa e o projeto de universalização de princípios religiosos predominantes na Europa.
- a natureza exclusivamente política das navegações portuguesas e a associação dos Estados europeus no esforço expansionista.
- o compromisso histórico de Portugal com a preservação da liberdade dos povos conquistados e a extinção da escravidão nas nações europeias.
- a instalação de um regime democrático em Portugal e a divisão igualitária das colônias asiáticas entre as monarquias europeias.
24. (Santa Casa) Poucos aspectos da vida colonial [americana] permaneceram intocados pela mineração. [...] O Novo México permaneceu uma área pouco povoada, pobre e negligenciada do império, em grande parte porque não revelou fontes importantes de metais preciosos. Entretanto, mesmo o Novo México dependeu muito da mineração para a sua existência, encontrando um mercado para produtos animais e vegetais nas vilas da prata do norte da Nova Espanha.
(Peter Bakewell. “A mineração na América espanhola colonial”. In: Leslie Bethell (org.). História da América Latina: a América Latina colonial, vol. II, 1999.)
O excerto refere-se à exploração das riquezas americanas pela metrópole espanhola no século XVII, identificando
- a atuação de um centro dinâmico integrador de regiões produtivas do espaço colonial.
- a igualdade das atividades econômicas do ponto de vista de suas rentabilidades monetárias.
- a aplicação de políticas econômicas liberais pelo governo metropolitano nos territórios coloniais.
- a independência política das populações ameríndias nos perímetros de agricultura tradicional.
- a predominância da mão de obra espanhola assalariada nos setores da economia urbana.
25. (Santa Casa) Observe as imagens do quadro Mata reduzida a carvão, pintado em 1830 por Félix-Émile Taunay.
Félix-Émile Taunay chegou ao Brasil em 1816 com a Missão Artística Francesa. No quadro e no seu detalhe seguinte, o pintor representa
- a extração de matérias primas para o abastecimento de indústrias brasileiras.
- a força de um meio ambiente indomável ao esforço humano.
- a baixa produtividade proporcionada pelo emprego do trabalho compulsório.
- a exploração do trabalho escravo em uma floresta tropical.
- a expansão da urbanização sobre o espaço natural preservado.
26. (Santa Casa) Na medida em que a história de cada país da América Latina corre paralelamente às demais, atravessando situações bastante semelhantes — a colonização ibérica, a independência política, a formação dos Estados Nacionais, a preeminência inglesa e depois a norte-americana, para citar apenas alguns marcos tradicionais — não há, do meu ponto de vista, como fugir às comparações.
(Maria Ligia Coelho Prado. América Latina no século XIX: tramas, telas e textos, 2014.)
As histórias dos países da América Latina independente.
- organizaram os mesmos regimes políticos no período posterior às independências.
- foram radicalmente distintas do ponto de vista do desenvolvimento comercial.
- reproduziram os mesmos ritmos de industrialização ao longo da história.
- inseriram-se igualmente em relações internacionais de forças hegemônicas.
- constituíram blocos econômicos coesos de resistência ao domínio estrangeiro.
27. (Santa Casa) A criação da “política dos governadores” tem sido atribuída a Campos Sales, de cujo entendimento com os chefes dos estados mais numerosamente representados no Congresso resultou na reforma do regimento da Câmara na parte referente à verificação de poderes. Construiu-se desse modo uma engenhosa máquina de depuração ou degola dos candidatos oposicionistas. O resultado não podia ser outro: com os diplomas de seus afilhados reconhecidos pela graça da situação federal, os governadores exigiam de seus deputados e senadores estrita conformidade com os planos do Presidente da República [...].
(Victor Nunes Leal. Coronelismo, enxada e voto, 1976.)
O excerto descreve um mecanismo político típico da Primeira República brasileira que
- obedecia explicitamente a alguns artigos da Constituição republicana.
- harmonizava o exercício do poder republicano em esferas decisórias distintas.
- cumpria de maneira rigorosa os resultados das eleições republicanas.
- evitava o domínio do poder legislativo da República pelas oligarquias estaduais.
- suspendia os direitos atribuídos aos estados pela Constituição da República.
28. (Santa Casa) Veio a Guerra de 14, o paulista comprava manteiga da Dinamarca, bebia cerveja alemã, usava papel higiênico inglês e pensava em latim. A campanha submarina fez tudo isso naufragar. [...] Os imigrantes tinham a tradição do artesanato e da economia, fizeram as primeiras fábricas. [...]. Nossa indústria encontrou uma grande sobra de famintos no campo para explorar, criou bairros urbanos.
(Oswald de Andrade. A revolução melancólica, 1978.)
O excerto reproduz a fala de um personagem do livro A revolução melancólica, publicado em primeira edição em 1943. As palavras do personagem
- explicitam as causas de um processo de transformação histórica regional.
- aludem à desindustrialização das nações envolvidas na Primeira Guerra Mundial.
- englobam as mudanças históricas em todas as regiões do país.
- referem-se à estagnação da produção manufatureira no Brasil.
- revelam a aplicação de capital estatal nos setores de bens de produção.
29. (Santa Casa) A radicalização política dos anos 60 foi dessa gente jovem. Os jovens radicais eram liderados por membros de seu grupo de pares. Isso se aplicava visivelmente aos movimentos estudantis mundiais, mas onde estes provocaram motins operários em massa, como na França e na Itália em 1968-9, a iniciativa também veio de jovens operários. Ninguém, com as limitações da vida real, poderia ter idealizado os slogans confiantes, mas patentemente absurdos, dos dias parisienses de maio de 1968, nem do “outono quente” de 1969: “tutto e súbito”, queremos tudo e já.
(Eric J. Hobsbawm. Era dos extremos: o breve século XX, 1995. Adaptado.)
Considerando o conteúdo do excerto e conhecimentos sobre os anos cinquenta e sessenta do século passado, observa-se que
- as mobilizações sociais eram um fenômeno exclusivamente ocidental.
- as manifestações eram lideradas por políticos de partidos tradicionais de esquerda.
- os ativismos contestatórios restringiam-se às esferas das lutas políticas.
- os movimentos operários defendiam o fim da economia agroindustrial.
- as manifestações contrapunham-se aos ritmos habituais das mudanças sociais.
30. (Santa Casa) O que elas são, russas ou soviéticas? Não, elas foram soviéticas — e também russas, bielorrussas, ucranianas, tadjiques... E, apesar de tudo, ele existiu, o homem soviético. Pessoas assim, acho, não vão existir nunca mais, eles mesmos já entenderam isso. Até nós, seus filhos, somos diferentes. Queríamos ser como todo o resto. Parecidos não com nossos pais, mas com o mundo.
(Svetlana Aleksiévitch. A guerra não tem rosto de mulher, 2021.)
A autora, prêmio Nobel de literatura em 2015, escreveu sobre a Segunda Guerra Mundial na perspectiva das mulheres soviéticas
- a defesa da unidade das nações na luta ininterrupta contra o totalitarismo.
- a igualdade de gêneros nas repúblicas da ex-União soviética.
- a valorização do internacionalismo operário na antiga União soviética.
- a união de distintas identidades femininas durante o conflito armado.
- a persistência da defesa dos valores socialistas do Estado soviético.