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UERJ 2024: Literatura

AS QUESTÕES 09 A 22 REFEREM-SE AO LIVRO QUINCAS BORBA, DE MACHADO DE ASSIS (Rio de Janeiro: EdUERJ, 2024), publicado pela primeira vez em 1891.

09. (UERJ 2024) Capítulo I - Rubião fitava a enseada – eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos no cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço de água quieta; mas, em verdade, vos digo que pensava em outra coisa. Cotejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista. Olha para si, para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade.

No primeiro parágrafo do romance, o personagem manifesta uma percepção do mundo que revela uma postura de:

  1. idealização da vida urbana
  2. interesse pelo convívio íntimo
  3. busca de respeito profissional
  4. fascínio pela ostentação pessoal

11. (UERJ 2024) – Capítulo VI (...) Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.

– Mas a opinião do exterminado?

– Não há exterminado. Desaparece o fenômeno; a substância é a mesma. Nunca viste ferver água? Hás de lembrar-te que as bolhas fazem-se e desfazem-se de contínuo, e tudo fica na mesma água. Os indivíduos são essas bolhas transitórias.

– Bem; a opinião da bolha...

– Bolha não tem opinião. Aparentemente, há nada mais contristador que uma dessas terríveis pestes que devastam um ponto do globo? E, todavia, esse suposto mal é um benefício, não só porque elimina os organismos fracos, incapazes de resistência, como porque dá lugar à observação, à descoberta da droga curativa.

O trecho acima sustenta a filosofia do Humanitismo, defendida por Quincas Borba. Essa filosofia faz caricatura dos princípios deterministas do século XIX.

Com base nessa filosofia, os indivíduos podem se sentir autorizados à seguinte prática:

  1. valorizar o luxo
  2. neutralizar o vício
  3. defender a guerra
  4. pregar a tolerância

13. (UERJ 2024) Capítulo XXXV Ia muita vez ao teatro sem gostar dele, e a bailes, em que se divertia um pouco – mas ia menos por si que para aparecer com os olhos da mulher, os olhos e os seios. Tinha essa vaidade singular; decotava a mulher sempre que podia, e até onde não podia, para mostrar aos outros as suas venturas particulares.

O trecho acima se refere à relação entre Cristiano Palha e sua esposa, Sofia Palha. A necessidade do marido de “mostrar aos outros as suas venturas particulares” configura-se como uma contradição.

A contradição se forma porque:

  1. a vontade da esposa é reprimida
  2. a intimidade do casal é exposta
  3. a intenção do marido sobressai
  4. o amor da relação desaparece

15. (UERJ 2024) Capítulo LV A última hipótese trouxe à fisionomia do Palha um elemento novo, que não sei como chame. Desapontamento? (...) Vá desapontamento. Misturem-lhe o pesar da separação, não esqueçam a cólera que primeiro trovejou surdamente, e não faltará quem ache que a alma deste homem é uma colcha de retalhos. Pode ser; moralmente as colchas inteiriças são tão raras!

No trecho, observa-se a reação de Cristiano Palha à decisão de Rubião de voltar para Minas, o que faz o narrador se referir à sua alma como uma colcha de retalhos.

Com base na trajetória de Cristiano Palha, essa descrição enfatiza que o perfil desse personagem se constitui a partir de:

  1. emoções sustentadas pelo impulso
  2. atitudes pautadas pelo oportunismo
  3. posicionamentos articulados pelo idealismo
  4. princípios estabelecidos pelo conhecimento

16. (UERJ 2024) Capítulo LXIX O narrador do romance, em diversos momentos, explicita que está escrevendo uma obra de ficção, o que representa um processo literário chamado metaficção.

Uma passagem deste capítulo que evidencia esse processo é:

  1. É de saber que tinham decorrido oito meses desde o princípio do capítulo anterior, e muita coisa estava mudada.
  2. Rubião estremeceu; a suposição de que naquele Quincas Borba podia estar a alma do outro nunca se lhe varreu inteiramente do cérebro.
  3. Atrás dos motivos de recusa, vieram outros contrários. E se o negócio rendesse? Se realmente lhe multiplicasse o que tinha?
  4. Não se admirava de nada. Se um dia acordasse imperador, só se admiraria da demora do Ministério em vir cumprimentá-lo.

18. (UERJ 2024) Capítulo CXLVIII Uma só pessoa, o Dr. Camacho, posto julgasse que os bigodes e a pera ficavam muito bem ao amigo, ponderou que era de bom aviso não alterar o rosto, verdadeiro espelho da alma, cuja firmeza e constância devia reproduzir.

Com o comentário acima, o narrador sintetiza um conflito presente em todo o romance.

Esse conflito se estabelece entre os seguintes aspectos:

  1. ordem e desordem
  2. essência e aparência
  3. juventude e maturidade
  4. individualismo e solidariedade

20. (UERJ 2024) Capítulo CLXXXVIII D. Fernanda é a única personagem do romance dotada de “simpatia universal”, fazendo com que atue como elemento de contraste em relação às demais personagens. Uma passagem do romance que ilustra esse contraste está transcrita

em:

  1. D. Fernanda levou o marido para um gabinete, e, à força de beijos, consolou-o daquele golpe. Ao almoço, já ele sorria, ainda que de um sorriso pálido;
  2. No domingo seguinte, D. Fernanda foi à igreja de Santo Antônio dos Pobres. Acabada a missa, viu surgir do movimento dos fiéis que se cumprimentavam entre si, ou saudavam o altar, nada menos que o primo, ereto, risonho, gravemente trajado, estendendo-lhe a mão.
  3. A compaixão de D. Fernanda tinha-a impressionado muito; achou-lhe um quê distinto e nobre, e advertiu que se a outra, sem relações estreitas nem antigas com Rubião, assim se mostrava interessada, era de bom tom não ser menos generosa.
  4. Quincas Borba acudiu ao chamado, não pulando, nem alegre. D. Fernanda inclinou-se, perguntou-lhe pelo amigo, se estava longe, se queria ir vê-lo.

22. (UERJ 2024) “A realidade é boa, o realismo é que não presta para nada.”

A declaração acima foi publicada por Machado de Assis num artigo de jornal.

A frase do narrador de Quincas Borba que melhor se associa à declaração acima é a seguinte:

  1. A imaginação não podia mais, e a realidade próxima atraiu-lhe a vista.
  2. Já é muito concertar farrapos de realidade.
  3. Rubião, na rua, voltou a cabeça para todos os lados, a realidade apossava-se dele e o delírio esvaía-se.
  4. Rubião precisava de um pedaço de corda que o atasse à realidade, porque o espírito sentia-se outra vez presa da vertigem.

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