UFPR 2023: Sociologia
78. (UFPR) Considere o texto a seguir: Os sociólogos franceses Luc Boltanski e Ève Chiapello, em sua obra intitulada O novo espírito do capitalismo (2009), afirmam que a nova política de contratação e as novas organizações da estrutura empresarial (que é global) permitem que o empregador, ao subcontratar a mão de obra, possa ocultar que é o empregador. É o caso de grandes empresas norte-americanas de celulares que transferiram sua produção para empresas fornecedoras na China. [...] Ou seja, levam a alterações contratuais de trabalho que, ao facilitarem os trâmites e a burocracia para a demissão de empregados, como é o caso dos chamados temporários, aumentam a sensação de insegurança dos trabalhadores.
(ARAÚJO, Silvia Maria de Araújo; BRIDI, Maria Aparecida; MOTIM, Benilde Lenzi. Sociologia. São Paulo: Scipione, 2016. p. 152.)
Sobre os problemas relativos à transformação no mundo do trabalho no século XXI, é corretor afirmar:
- A introdução de novas regras salariais tem beneficiado trabalhadores e trabalhadoras num contexto global, pois a flexibilização possibilitou a organização de seus próprios horários de atividade profissional.
- A modernização industrial que se viu refletida no desenvolvimento tecnológico – caso ilustrativo são as empresas norteamericanas fabricantes de celulares – propiciou a organização mais eficiente das leis laborais.
- A flexibilização das leis que regulam as atividades laborais resulta em aumento da assimetria nas relações entre capital e trabalho, dificultando especialmente a ação de sindicatos em favor dos trabalhadores e trabalhadoras.
- Trabalhadoras e trabalhadores temporários, embora tenham condições de trabalho menos seguras, são beneficiados pela aquisição de maior capacidade de agir coletivamente por meio de negociações intermediadas por corporações profissionais.
- O fenômeno da terceirização gerou impacto positivo no mercado de trabalho, resultando em modalidades mais justas de contratação, como no caso do empreendedorismo.
79. (UFPR) Considere o trecho a seguir: Os problemas de diversidade e pluralismo colocados em pauta pelas sociedades multiculturais, a partir da década de 1980, obrigaram-nos a uma nova reflexão sobre o reconhecimento universalista proposto pela Modernidade. Os movimentos sociais organizados por homossexuais, negros, mulheres, entre outros grupos, passaram a reivindicar a efetiva realização da igualdade de oportunidades e o fim dos princípios discriminatórios. Deu-se, então, o estabelecimento de políticas públicas que ficaram conhecidas como políticas de ação afirmativa.
(O’DONNEL, Julia et al. Tempos modernos, tempos de sociologia. Rio de Janeiro: Editora do Brasil, 2018.)
Com base na argumentação das autoras, pode-se afirmar que:
- em termos práticos, a defesa desse novo tipo de reconhecimento social estimula diferentes ações de inclusão social, com exceção da “política de cotas”.
- as políticas de ação afirmativa constituem uma estratégia ideológica pouco eficaz, correspondendo a uma agenda globalista.
- movimentos sociais organizados por homossexuais, negros e negras (entre outras minorias) estão hiper-representados na sociedade em virtude das recentes políticas públicas de ação afirmativa, gerando grandes distorções e privilégios para estes grupos favorecidos.
- é necessário amplo debate sobre os temas da diversidade e representação social, atitude imperativa para atualização de categorias fundamentadas em pressupostos pré-modernistas.
- ações afirmativas se baseiam em um pressuposto que leva em conta as condições desiguais de determinados grupos sociais para acesso às oportunidades sociais.
80. (UFPR) Sobre o tema do racismo na sociedade brasileira, considere o excerto a seguir: A visão de convívio harmonioso entre as raças foi desconstruída pelos estudos de Florestan Fernandes, que participou com Roger Bastide das pesquisas financiadas pela Unesco, e redundaram no livro A integração do negro na sociedade de classes (1965).
(SILVA, Afrânio et. al. Sociologia em movimento. São Paulo: Moderna, 2016. p. 121.)
Qual é, dentre as afirmativas a seguir, a que sintetiza a contribuição do sociólogo Florestan Fernandes para os estudos das relações raciais no Brasil?
- O autor demonstra que uma das particularidades do caso brasileiro é a vigência da ideia de que somos uma democracia racial, o que não é senão um mito que assegura a manutenção da desigualdade entre brancas e brancos por um lado e negras e negros de outro.
- O racismo reverso é seu argumento analítico para a crítica da imagem de que as relações raciais são harmoniosas no Brasil.
- O autor elabora o conceito de racismo estrutural ainda na década de 1960, num momento em que o Brasil era impactado pelas conquistas do movimento pelos direitos civis, nos EUA.
- Sua proposta foi o estabelecimento de uma política de cotas, encaminhada como projeto ao governo militar instaurado em 1964 visando à crítica das noções idealizadas do racismo.
- O autor elabora normativas para a criação de organizações não governamentais (ONGs) atuantes como instrumentos para exercer a crítica e combater o racismo no Brasil.
81. (UFPR) Considere o excerto a seguir. Na sociologia, até os anos 1970, o conceito de “papéis sociais de sexo”, apresentado pela antropóloga cultural estadunidense Margaret Mead (1901-1978), era o termo mais utilizado. É a partir dessa década que as teorias sociais passam a utilizar o conceito de gênero influenciadas pela chamada segunda onda do feminismo [...]. Desse modo, o conceito de gênero passa a enfatizar os processos de construção dos comportamentos em relação ao corpo e aos afetos, justamente para superar o “congelamento” das categorias de homem e mulher que advêm de descrições biológicas. [...] Isso quer dizer, como afirma o sociólogo francês Pierre Bourdieu, que as estruturas e instituições sociais partem de uma construção simbólica em que as características masculinas e femininas são biologizadas, naturalizadas e, portanto, dificilmente podem ser desconstruídas.
(SILVA, Afrânio et. al. Sociologia em movimento. São Paulo: Moderna, 2016. p. 333.)
Sobre a abordagem sociológica do conceito de gênero, é correto afirmar:
- A imaginação sociológica, categoria definida pela sociologia norte-americana, é a ferramenta mais importante no processo de construção das categorias de análise e do conceito de gênero, contrariando as teses de Pierre Bourdieu sobre os poderes simbólicos.
- Para a sociologia, identidade de gênero se constitui no contexto das relações sociais, base na qual se formulam sentidos e significados aos aspectos anatômicos e se institucionalizam diferenciações psíquicas e comportamentais e divisões sexuais do trabalho social.
- Margaret Mead pouco contribuiu para os estudos sobre gênero, pois sua abordagem estritamente antropológica não ofereceu ferramentas eficazes na análise sociológica.
- Apesar das diferentes ondas feministas que se formaram no decorrer do século XX, não houve impacto significativo nos estudos sociológicos sobre gênero, pois só muito recentemente a sociologia tem se preocupado com o tema.
- Para a teoria social, é imprescindível considerar os aspectos inatos e essenciais da atividade humana, logo, os estudos sociológicos daí decorrentes demonstram como os aspectos relacionais têm pouca influência sobre os estudos de gênero.
82. (UFPR) Considere o texto a seguir. Se fato social é considerado por Émile Durkheim o objeto sociológico por excelência, por trazer ao conhecimento uma realidade da natureza social e coletiva bem diversa da realidade dos fenômenos individuais, Max Weber elegeu a Sociologia como ciência da ação social.
(ARAÚJO, Silvia Maria de Araújo; BRIDI, Maria Aparecida; MOTIM, Benilde Lenzi. Sociologia. São Paulo: Scipione, 2016. p. 29.)
O que Weber entende por ação social?
- Um conjunto de ações coletivas que visam à implementação de um poder revolucionário e à ruptura estrutural de uma dada sociedade.
- Uma ação isolada e fortalecida pela subjetividade do indivíduo, visto que, na modernidade descritAuriculoterapiaa por Weber, o individualismo se torna instrumento fundamental das relações sociais.
- Uma iniciativa privada das empresas com intenção de melhor conduzir o comportamento dos indivíduos na vida pública e nas estruturas burocráticas.
- Uma ação orientada por expectativas em relação à(s) outra(s) pessoa(s), sejam elas conhecidas ou não, vivas, mortas (ancenstrais) ou nem nascidas (visando as gerações futuras).
- Um conceito utilizado para definir a interação dos cidadãos nas sociedades antigas, nas quais a ação social era necessária para sobrevivência dos coletores e caçadores.