UNICAMP 2023: História
57. (Unicamp)
As gravuras eram um importante e significativo meio de comunicação nas sociedades europeias. Os ecos do Novo Mundo chegavam à Europa rapidamente pelas mãos daqueles que nunca tinham pisado no continente recém-descoberto.
(Adaptado de TATSCH, Flavia Galli. A construção visual da América em gravuras: códigos de Percepção e suas transformações. In: III Encontro Nacional de Estudos da Imagem, 03 a 06 de maio de 2011, Londrina – PR.)
A partir da leitura da imagem e do texto acima – que versam, ambos, sobre a construção visual, em gravuras, da América do início da Era Moderna –, é correto afirmar que
- a gravura traz elementos greco-romanos para representar a descoberta do Novo Mundo. Nela, o continente foi simbolizado pela paisagem típica da América e pela presença de Américo Vespúcio.
- o código visual da gravura, produzido em um contexto medieval, traz o encontro de Américo Vespúcio com as terras americanas, representado pelos artefatos europeus, como, por exemplo, a rede.
- a gravura alude ao encontro entre Américo Vespúcio e a América, representados, na imagem, pelo navegador e pelaindígena nua. Essa representação resultava dos relatos escritos sobre o Novo Mundo e da tradição imagética europeia.
- a gravura usa elementos visuais da cultura europeia para apresentar a Europa como detentora de civilidade e a América indígena, grotesca, armada e opositora aos domínios europeus.
58. (Unicamp) As estimativas sobre a população de Palmares no século XVII oscilam entre 5 e 20 mil pessoas. A crônica abaixo, de 1678, descreve o território palmarino:
Reconhecem-se todos obedientes a um que se chama “o Ganga Zumba”, que quer dizer “Senhor Grande”. A este tem por seu rei e senhor todos os mais, assim naturais dos Palmares como vindos de fora. Habita na sua cidade real que chamam o Macaco.
Esta é a metrópole entre as mais cidades e povoações. Está fortificada toda em cerco de pau a pique, com torneiras abertas para ataque e defesa. E pela parte de fora toda se semeia de estrepes de ferro e buracos no chão.
Ocupa esta cidade dilatado espaço, forma-se mais de 1500 casas. A segunda cidade chama-se Sirbupira; nesta habita o irmão do rei que se chama “o Zona”. É fortificada toda de madeira e pedras, compreende mais de oitocentas casas. Das mais cidades e povoações darei notícia quando lhe referir as ruínas.
(Adaptado de: ANTT, Manuscrito da Livraria, cod. 1185, fls. 149-55v. In: LARA, Silvia; FACHIN, Phablo (org.). Guerra contra Palmares: o manuscrito de 1678. São Paulo: Chão Editora, 2021, p. 9 – 49.)
Sobre a organização do espaço palmarino, é correto afirmar que
- os negros que fugiram para Palmares ocuparam os espaços urbanos das vilas coloniais na Serra da Barriga; essas vilas tinham sido abandonadas por Portugal durante as guerras de expulsão, de Pernambuco, dos holandeses.
- o que se convencionou chamar de quilombo de Palmares era uma rede de povoações fortificadas, formadas por centenas de casas e interligadas por meio de um sistema político influenciado por lógicas culturais africanas.
- as povoações que constituíam Palmares se originaram da estrutura urbanística construída por Nassau nas serras de Pernambuco e Alagoas, a partir da racionalidade holandesa na época da luta pelo domínio do açúcar.
- a maioria da população negra que vivia nos mocambos de Palmares no século XVII era crioula, ou seja, nascida no Brasil, e combinava a influência da organização política de Angola e das redes urbanas litorâneas e europeias de Pernambuco.
59. (Unicamp) No livro “A invenção dos direitos humanos”, a historiadora Lynn Hunt nomeou dois mecanismos de transformação na França de fins do século XVIII. O primeiro seria a popularização dos chamados romances epistolares. As cartas enviadas pelas protagonistas discorrem sobre as emoções humanas para os leitores.
As lutas das personagens Clarissa e Pâmela, descritas por Samuel Richardson, ou as questões de Júlia, personagem de Jean-Jacques Rousseau, fizeram com que os leitores reconhecessem a legitimidade de seus desejos e de suas vivências.
Outro mecanismo de transformação social foi a campanha contra a tortura, marcada por uma nova visão de corpo. Para Hunt, ler relatos de tortura e romances epistolares ajudou a moldar o foro íntimo de cada um, o que teve repercussão na política.
Considerando o texto acima e o contexto histórico comentado, assinale a alternativa correta sobre os direitos humanos.
- O nascimento dos direitos humanos ligou-se ao aparecimento do sentimento de empatia entre diferentes sujeitos sociais, independentemente de sua condição social, como se podia ver nos romances epistolares. Isso influenciou os preceitos de liberdade individual e de igualdade social.
- Conhecidas através dos romances policiais editados pela imprensa revolucionária francesa, as personagens literárias femininas subalternas ganharam importância ao se oporem à tortura, defendida pelo Terceiro Estado nos debates sobre direitos humanos.
- O nascimento dos direitos humanos envolveu a contestação, pela imprensa francesa, da tortura como prática de obtenção de testemunho ou como castigo. Isso se devia ao fato de que a tortura feria a concepção cristã de corpo, defendida pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
- Ao afirmar que todos são iguais perante a lei e que todos gozam dos mesmos direitos, independentemente de sua origem social ou nascimento, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão defendia o cidadão passivo, indiferente à violência e à humilhação na convivência cotidiana.
60. (Unicamp) Observe abaixo duas pinturas históricas oitocentistas que se tornaram cânones visuais da História do Brasil, e que são acionadas, por exemplo, nas comemorações do Bicentenário da Independência.
A partir de seus conhecimentos, assinale a alternativa correta a respeito da produção do passado histórico.
- As duas telas encenam dois fatos históricos fundamentais da memória nacional: o descobrimento do Brasil e a fundação da nação independente. Inseridas no panteão histórico nacional, elas valorizam a história global e a Europa.
- Prática do ideário nacionalista oitocentista, a celebração, na pintura histórica, dos fatos nacionais estava associada à produção – do ponto de vista dos trabalhadores retratados na tela – de uma visão de passado da nação.
- Celebrar eventos do passado foi estratégico para as identidades coloniais criadas no século XIX. Assim, pertencer a uma nação significava herdar um passado de valorização da diversidade étnica e igualdade social.
- Estas pinturas inseriam-se em políticas de memória que construíam e traduziam valores fundamentais das identidades nacionais. Elas ensinavam sobre as origens da nação e estabeleciam referências identitárias para os cidadãos.
61. (Unicamp) Na Greve de 1917 em São Paulo, os conflitos propagaram-se a partir do Cotonifício* Crespi, com cerca de 2 mil trabalhadores; em pouco tempo, congregaram 50 mil pessoas numa cidade de 400 mil habitantes.
Entre sociedades de classes, as quais eram combativas, políticas e de identidade étnica, havia sido organizado em março daquele ano, pouco antes da eclosão da greve, o Comitê Popular de Agitação contra a exploração das crianças. Por meio de enquetes, reuniões e palestras, o Comitê procurava revelar as relações de trabalho a que os menores estavam sujeitos: jornadas extenuantes e graves acidentes.
Nas notícias de jornais, era comum encontrar casos como o de José, de 12 anos, que teve o braço esmagado por uma máquina amassadeira da fábrica de biscoitos “A Fidelidade”, e Henrique Guido, de 8 anos, que teve os dedos decepados numa oficina da Barra Funda.
(Adaptado de FRACCARO, Glaucia. Mulheres, sindicato e organização política nas greves de 1917 em São Paulo. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 37, n. 76, p. 76-77, 2017.)
*Cotonifício: algodoaria.
Com base no excerto e em seus conhecimentos sobre a história do trabalho no Brasil, é correto afirmar que
- as mobilizações da greve de 1917 tinham por objetivo implementar a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), base legal da igualdade salarial entre homens, mulheres e crianças, reconhecida nos anos de 1990.
- em resposta à greve de 1917, o presidente Venceslau Brás institui, no ano seguinte, para a indústria brasileira, a igualdade de salário entre homens e mulheres e torna ilegal o trabalho infantil no setor têxtil de todo o país.
- a greve de 1917 foi impulsionada, entre outros fatores, pelos baixos salários (não obstante o cenário de alta inflação), multas contra os trabalhadores, acidentes, jornadas extenuantes, e falta de regulamentação do trabalho de menores.
- na época da greve de 1917, o trabalho das crianças nas fábricas era considerado ilegal; o trabalho infantil foi regulamentado posteriormente por Getúlio Vargas por meio das leis trabalhistas.
62. (Unicamp) “Como pode um povo vivo
Viver nesta carestia
Como poderei viver
Como poderei viver
Dia e noite, noite e dia
Com a barriga vazia
Como pode um operário
Viver com esse salário
Como pode a criançada
Estudar sem comer nada”
(“Programa oficial do lançamento geral do abaixo-assinado” do Movimento do Custo de Vida, 12/03/1978. Doc. 039_4. Fundo ECO_PRE, Centro Pastoral Vergueiro. Citado em: MONTEIRO, Thiago Nunes. Como pode um povo vivo viver nesta carestia: O Movimento do Custo de Vida em São Paulo (1973-1982). São Paulo: Humanitas, 2017.)
A letra acima foi utilizada pela campanha coordenada pelo Movimento Custo de Vida, iniciado por mulheres das periferias da cidade de São Paulo, em 1978. Sobre as lutas por melhores condições de vida durante a década de 1970 na ditadura militar (1964-85), é correto afirmar que
- o Movimento do Custo de Vida foi organizado para protestar contra as políticas econômicas e sociais da ditadura militar que provocavam o arrocho salarial e a inflação.
- diante da impossibilidade de fazer protestos de rua, o Movimento do Custo de Vida teve atuação por meio de letras de músicas de duplo sentido (para driblar a censura), veiculadas no rádio.
- após reunir cerca de 200 mil pessoas na Praça da Sé em São Paulo em 1978, o Movimento do Custo de Vida migrou para a luta armada como resposta à repressão.
- as Comunidades Eclesiais de Base, instaladas nas periferias das grandes cidades e onde começou o Movimento do Custo de Vida, foram desmanteladas em 1979.
63. (Unicamp) Sobre os debates entre os Governos do Mercosul, é importante destacar que existem instâncias de construção de memórias regionais.
Estas experiências acompanham os processos de verdade e justiça que estão em andamento nos países para revisar, investigar e julgar os crimes de lesa-humanidade cometidos, no passado, pelo Estado.
Nesta linha, os lugares de Memória são instâncias que buscam transformar certas marcas a fim de evocar memórias e torná-las inteligíveis ao situá-las no contexto de um relato mais amplo.
(Adaptado de: MERCOSUL. Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos do MERCOSUL (IPPDH). Princípios fundamentais para as políticas públicas sobre lugares de memória. Buenos Aires: Mercosul, p. 5, 2012.)
A partir do excerto e de seus conhecimentos, assinale a alternativa correta.
- Embora o Mercosul seja definido pela integração econômica, seus países membros também partilham experiências de ditaduras militares no passado, experiências essas que constituem uma memória regional comum.
- A escolha de lugares de memória comuns ao passado dos países membros do Mercosul pauta a agenda econômica de sua integração e baliza a construção de patrimônios edificados.
- A reparação dos crimes cometidos pelas ditaduras militares dos estados membros do Mercosul se tornou possível com a criação de instâncias jurídicas supranacionais que julgam violações contra a humanidade.
- Ainda que novas, nota-se que o objetivo das políticas públicas de memória do Mercosul – acerca dos traumas das ditaduras – é eleger um conjunto de patrimônios edificados para pacificar o passado.
64. (Unicamp) A palavra Antropoceno aparece hoje no título de centenas de livros e artigos científicos, em milhares de citações, e seu uso continua a crescer nos meios de comunicação. Referindo-se à época em que as ações humanas começaram a provocar alterações biofísicas em escala planetária, o termo foi criado nos anos de 1980 e popularizado na década de 2000.
Grupos de especialistas constataram que essas alterações afetavam o Sistema Terra do relativo equilíbrio observado desde o início do Holoceno, há 11.700 anos. Para marcar o início dessa nova era, tais grupos escolheram simbolicamente o ano de 1784, momento do aperfeiçoamento da máquina a vapor e sua popularização.
O contexto também corresponde ao início da revolução industrial e da utilização dos combustíveis fósseis.
(Adaptado de LÉNA, Philippe; ISSBERNER, Liz-Rejane. Antropoceno: os desafios essenciais de um debate científico. Correio da Unesco. Suplemento online. Unesco Courrier. 2018-2. Disponível em: https://pt.unesco.org/courier/2018-2/antropoceno-os-desafios--essenciais-um-debate-cientifico . Acesso em 03/05/2022.)
Com base na leitura do texto acima e em seus conhecimentos, assinale a alternativa correta.
- A partir do século XVIII, com o Iluminismo, a crença da superioridade humana sobre a natureza foi amplamente questionada, o que diminuiu os impactos das ações humanas sobre o Planeta em todo o século XX e XXI.
- A partir da Era Moderna, o antropocentrismo pautou a crença na superioridade humana sobre a natureza; essa ideia foi consolidada em 1784, mantendo-se nas ciências até o presente com o nome de Antropoceno.
- Mudança climática, alteração da cobertura vegetal e perda de biodiversidade em grande escala são marcas da humanidade no Planeta desde as expansões marítimas do século XVI, sendo pouco preocupantes para as ciências.
- Com a popularização do estilo de vida norte-americano, houve uma aceleração das mudanças causadas pela ação humana sobre o Planeta Terra, mudanças essas que vinham ocorrendo desde 1784, com a Revolução Industrial.