Unicamp 2025: Sociologia
23. (UNICAMP 2025) Mary Wollstonecraft abre sua obra, Reivindicações dos direitos da mulher (1792), com uma carta ao Sr. Talleyrand-Périgord, antigo bispo de Autun e político ativo durante a Revolução Francesa. O bispo propõe nova Constituição, o que foi apresentado e discutido na Assembleia revolucionária. Nessa carta, Wollstonecraft afirma:
“Mas, se as mulheres devem ser excluídas, sem voz, da participação dos direitos naturais da humanidade, prove antes, para afastar a acusação de injustiça e inconsistência, que elas são desprovidas de razão; de outro modo, essa falha em sua NOVA CONSTITUIÇÃO sempre mostrará que o homem deve de alguma forma agir como um tirano, e a tirania, quando mostra sua face despudorada em qualquer parte da sociedade, sempre solapa a moralidade”.
(WOLLSTONECRAFT, M. Reivindicações dos direitos da mulher. São Paulo: Boitempo Editorial, p. 20, 2016.)
Assinale a opção que melhor sintetiza a crítica de Wollstonecraft apresentada no excerto.
- Ao abordar tanto a possibilidade de uma nova constituição quanto a tirania masculina, Wollstonecraft faz uma crítica ao absolutismo, finalmente derrubado, através da instauração da República e da Declaração dos Direitos do Homem, no contexto da Revolução Francesa.
- A crítica de Wollstonecraft recai sobre os homens que, ao serem tiranos com as mulheres, destroem a moral da sociedade. Ela defende a necessidade de uma nova constituição: que não seja injusta com o sexo feminino e conceda direitos às mulheres, ainda que não sejam racionais como os homens.
- A nova Constituição, defendida pelo Sr. Talleyrand-Périgord, é injusta porque retira das mulheres direitos conquistados em decorrência da Revolução Francesa, quando as mulheres passaram a ser reconhecidas como seres racionais e participantes da humanidade.
- A menos que seja provado que a racionalidade das mulheres é deficiente, se comparada à dos homens, excluí-las da Constituição é ato injusto, ainda que coerente com uma cultura que aceita a tirania masculina.
Resposta: D
Resolução: Wollstonecraft argumenta que, a menos que seja provado que a racionalidade das mulheres é deficiente em comparação com a dos homens, excluí-las da Constituição é um ato injusto, ainda que coerente com uma cultura que aceita a tirania masculina. Sua crítica é direcionada à injustiça e inconsistência de uma nova Constituição que nega direitos às mulheres sem fundamento racional.
24. (UNICAMP 2025) Quando eu falo em adiar o fim do mundo, não é a este mundo em colapso que estou me referindo. Este tem um esquema tão violento que eu queria mais é que ele desaparecesse à meia noite de hoje e que amanhã a gente acordasse em um novo. No entanto, efetivamente, estamos atuando no sentido de uma transfiguração, desejando aquilo que o Nêgo Bispo chama de confluências, e não essa exorbitante euforia da monocultura, que reúne os birutas que celebram a necropolítica sobre a vida plural dos povos deste planeta. Ao contrário do que estão fazendo, confluências evoca um contexto de mundos diversos que podem se afetar. (...) Se o colonialismo nos causou um dano quase irreparável foi o de afirmar que somos todos iguais.
(Adaptado de KRENAK, Ailton. Futuro ancestral. São Paulo: Companhia das Letras, p. 40-42, 2022.)
Assinale a alternativa que explicita a crítica de Krenak à monocultura, tal como é enunciada no excerto.
- A monocultura praticada nos grandes latifúndios é responsável por diversos problemas ambientais e pela necropolítica.
- A monocultura, assim como a imposição colonial de um modelo cultural único, se expressa na recusa da pluralidade de povos e culturas.
- Adiar o fim do mundo requer o combate à monocultura na produção agrícola e a transfiguração deste mundo em que estamos vivendo.
- A monocultura, produtora de violências, é resultado do colonialismo e da necropolítica.
25. (UNICAMP 2025) Nos estudos sobre a Antiguidade Clássica produzidos até o final do século XX, era costumeira a afirmação de que as mulheres em Atenas não participavam da política. A definição de “política” na Grécia, todavia, era feita a partir dos olhos do mundo moderno, e, nesse caso, era um sinônimo de “cidadania”. O cidadão ateniense era homem, filho de pai e mãe atenienses. As mulheres, estrangeiros e escravos não gozavam do mesmo status. Após os anos de 2000, a partir de críticas de estudiosos, a definição de “política” e de “cidadania” na Grécia Clássica passou a ser repensada e a capacidade de ação das mulheres atenienses no espaço público foi redimensionada. Nesses estudos, as mulheres cidadãs de Atenas ganham visibilidade. Filhas de pai e mãe atenienses, nascidas em Atenas, tinham limitações de voto, mas desempenhavam funções no mundo cívico. Elas não podiam, por causa de seu sexo, ser juradas ou magistradas, por exemplo, mas estavam vivendo no mesmo universo público, sendo também cidadãs.
(Adaptado de CUCHET, V. S. Quais direitos políticos para as cidadãs da Atenas clássica?. Hélade, 4(1), p. 143-158, 2018.)
Tendo em vista seus conhecimentos sobre Grécia Antiga e considerando o excerto anterior, assinale a alternativa correta
- Desde o século XIX, os estudiosos defendem que o conceito de “cidadania” e o de “política” na democracia ateniense eram frágeis, sendo pertinentes aos homens da elite.
- Estudiosos afirmam que, na democracia ateniense, a cidadania e a política eram conceitos desvinculados; portanto, as mulheres atenienses estavam afastadas da vida pública.
- Desde os anos de 2000, os estudiosos passaram a reconhecer as mulheres da Antiguidade Clássica nascidas de pai e mãe atenienses como cidadãs plenas com direito ao voto.
- Novas pesquisas debatem os conceitos de “cidadania” e de “política”, bem como a relação desses conceitos com as mulheres atenienses que poderiam ser definidas como cidadãs.