UEA-SIS-3 2025: Linguagens
Leia o trecho do romance Capitães da Areia, de Jorge Amado, para responder às questões de 01 a 05.
Antes de tudo estava a lei do grupo, a lei dos Capitães da Areia. Os que a traíam eram expulsos e nada de bom os esperava no mundo. E nunca nenhum a havia traído do modo como o Sem-Pernas a ia trair. Para virar menino mimado, para virar uma daquelas crianças que eram eterno motivo de galhofa para eles. Não, não os trairia. Teriam bastado três dias para ele localizar os objetos de valor da casa. Mas a comida, a roupa, o quarto, e mais que a comida, a roupa e o quarto, o carinho de dona Ester tinham feito que ele passasse já oito dias. Tinha sido comprado por este carinho como o estivador fora comprado por dinheiro. Não, não trairia. Mas aí pensou se não ia trair dona Ester. Ela confiara nele. Ela também na sua casa tinha uma lei como os Capitães da Areia: só castigava quando havia erro, pagava o bem com o bem. O Sem-Pernas ia trair essa lei, ia pagar o bem com o mal. Lembrou-se que das outras vezes, quando dava o fora de uma casa para ela ser assaltada, era uma grande alegria que o invadia. Desta vez não tinha alegria nenhuma. Seu ódio para todos não desaparecera, é verdade. Mas abrira uma exceção para a gente daquela casa, porque dona Ester o chamava de filho e o beijava na face. O Sem-Pernas luta consigo mesmo. Gostaria de continuar naquela vida. Mas que adiantaria isso para os Capitães da Areia? E ele era um deles, nunca poderia deixar de ser um deles porque uma vez os soldados o prenderam e o surraram enquanto um homem de colete ria brutalmente. E o Sem-Pernas se decidiu. Mas olhou com carinho as janelas do quarto de dona Ester e ela, que o espiava, notou que ele chorava [...].
(Capitães da Areia, 2008.)
01. (UEA-SIS-3 2025) No trecho, Sem-Pernas cogita trair os Capitães da Areia em razão, sobretudo,
- da violência dos soldados da prisão.
- do carinho de dona Ester.
- da lei rigorosa do grupo.
- do dinheiro de dona Ester.
- da alegria que se segue aos assaltos.
Resposta: B
Resolução: A resposta correta é B, pois o texto destaca que o carinho de dona Ester teve um impacto profundo em Sem-Pernas, fazendo com que ele hesitasse em trair os Capitães da Areia. Ele luta internamente entre a lealdade ao grupo e o afeto que sente por ela.
02. (UEA-SIS-3 2025) O dilema vivenciado por Sem-Pernas está melhor explicitado no seguinte trecho:
- “Antes de tudo estava a lei do grupo”.
- “O Sem-Pernas ia trair essa lei”.
- “Seu ódio para todos não desaparecera”.
- “O Sem-Pernas luta consigo mesmo”.
- “E o Sem-Pernas se decidiu”.
Resposta: D
Resolução: A escolha da letra D é correta, pois esta frase encapsula o conflito interno de Sem-Pernas, que se debate entre suas lealdades e desejos, refletindo seu dilema moral.
03. (UEA-SIS-3 2025) No trecho, pensamentos do personagem Sem-Pernas aparecem entremeados na fala do narrador, como ocorre em:
- “Teriam bastado três dias para ele localizar os objetos de valor da casa.”
- “O Sem-Pernas ia trair essa lei, ia pagar o bem com o mal.”
- “Mas que adiantaria isso para os Capitães da Areia?”
- “O Sem-Pernas luta consigo mesmo.”
- “E o Sem-Pernas se decidiu.”
Resposta: C
Resolução: A resposta C é correta, pois essa frase revela diretamente o pensamento de Sem-Pernas, mostrando sua introspecção e dúvida sobre a traição.
04. (UEA-SIS-3 2025) Retoma uma expressão mencionada anteriormente no texto a palavra sublinhada em:
- “Antes de tudo estava a lei do grupo,a lei dos Capitães da Areia”.
- “Os que a traíam eram expulsos e nada de bom os esperava no mundo”.
- “Tinha sido comprado por este carinho como o estivador fora comprado por dinheiro”.
- “Ela também na sua casa tinha uma lei como os Capitães da Areia”.
- “Mas abrira uma exceção para a gente daquela casa”
Resposta: B
Resolução: A resposta B é adequada, pois a palavra "os" refere-se a "os que a traíam", retomando a expressão sobre a lei do grupo dos Capitães da Areia.
05. (UEA-SIS-3 2025) os soldados [...] o surraram enquanto um homem de colete ria brutalmente.”
Em relação à oração que a antecede, a oração sublinhada expressa ideia de
- consequência.
- finalidade.
- causa.
- condição.
- proporção.
Resposta: E
Resolução: A resposta E é correta, pois a oração sublinhada expressa a relação de proporção entre a ação dos soldados e a reação de um homem que ria, sugerindo que a brutalidade era quase banalizada em contraste com o sofrimento.
Leia o trecho do romance Ciranda de pedra, de Lygia Fagundes Telles, para responder às questões 06 e 07.
O quarto estava na penumbra, impregnado de um perfume adocicado e morno. A doente estava deitada no divã.
O roupão azul, frouxamente entreaberto no busto, deixava entrever o colo magro, da brancura seca do gesso. O rosto parecia tranquilo em meio à cabeleira em desordem, de um louro sem brilho.
[...] Pousou o olhar em Virgínia. — E quem é esta menina? Virgínia aproximou-se. “Outra vez, meu Deus, outra vez?!”
— Sou eu, mãe. Laura cerrou os grandes olhos mortiços. Tinha a expressão serena mas desatenta.
— Eu sou sua mãe, eu sou sua mãe — repetiu como uma criança obediente que consegue decorar a lição sem contudo entendê-la. Sorriu. — Eu estava brincando...
“Será melhor esperar”, resolveu Virgínia ajoelhando-se ao lado do divã. Se lhe perguntassem esperar o quê, não saberia responder. Apenas esperava. Uma vez surpreendeu uma mariposa presa numa teia. “Fuja depressa, fuja!”, desejara sem coragem de intervir. Mas a mariposa se deixava envolver sem nenhuma resistência no viscoso tecido cinzento que a aranha ia acumulando em torno de suas asas. Assim via a mãe, enleada em fios que lhe tapavam os ouvidos, os olhos, a boca. Não adiantava dizer-lhe nada. Nem mostrar- -lhe nada. Falas e pessoas batiam naquele invólucro macio e ao mesmo tempo resistente como uma carapaça, batiam e voltavam e batiam novamente num vaivém inútil. Apenas uma pessoa conseguia penetrar no emaranhado: Daniel.
(Ciranda de pedra, 2009.)
06. (UEA-SIS-3 2025) Não fosse a doença, a comparação com a mariposa enredada permitiria caracterizar Laura como uma mulher
- ensimesmada.
- inconveniente.
- enigmática.
- insistente.
- extrovertida
Resposta: A
Resolução: A escolha da letra A é correta, pois a comparação com a mariposa enredada sugere que Laura está presa em sua própria condição, refletindo uma introspecção profunda, característica de alguém ensimesmado.
07. (UEA-SIS-3 2025) Verifica-se o emprego de vírgula para isolar um vocativo em:
- “O roupão azul, frouxamente entreaberto no busto, deixava entrever o colo magro, da brancura seca do gesso.” (1º parágrafo)
- “Virgínia aproximou-se. ‘Outra vez, meu Deus, outra vez?!’” (3º parágrafo)
- “— Eu sou sua mãe, eu sou sua mãe — repetiu como uma criança obediente que consegue decorar a lição sem contudo entendê-la.” (6º parágrafo)
- “‘Fuja depressa, fuja!’, desejara sem coragem de intervir.” (7º parágrafo)
- “Assim via a mãe, enleada em fios que lhe tapavam os ouvidos, os olhos, a boca.” (7º parágrafo)
Resposta: B
Resolução: A resposta B é a correta, pois "Meu Deus" é um vocativo e está corretamente isolado por vírgulas, indicando que a personagem se dirige a alguém (neste caso, à sua própria mãe) de forma expressiva.
08. (UEA-SIS-3 2025) Este movimento de vanguarda decompõe os objetos para recompô-los segundo uma lógica própria, que não obedece às leis naturais. A deformação do objeto se dá por via da geometrização.
(Lígia Cademartori. Períodos literários, 1987. Adaptado.)
Uma obra representativa da vanguarda artística retratada no texto está reproduzida em:
Resposta: B
Resolução: A resposta B é adequada, pois a obra correspondente deve apresentar características da vanguarda, como a deformação e geometrização dos objetos, refletindo a lógica própria dessa corrente artística. (Nota: para uma análise mais precisa, seria necessário visualizar as imagens apresentadas.)