Simulado de Filosofia
Simulado com 11 exercícios de Filosofia com gabarito para a Fuvest.
01. (Fuvest 2023) “A Pólis apresenta-se como um universo homogêneo, sem hierarquia, sem planos diversos, sem diferenciação. (...) Segundo um ciclo regulamentado, a soberania passa de um grupo a outro, de um indivíduo a outro, de tal maneira que comandar e obedecer, em vez de se oporem como dois absolutos, tornam-se os dois termos inseparáveis de uma mesma relação reversível”.
VERNANT, Jean-Pierre. As Origens do Pensamento Grego. Rio de Janeiro: Difel, 2002.
Sobre a noção de pólis expressa no texto, é correto afirmar que ela pressupõe
- uma concepção excludente do poder político
- uma oposição absoluta entre comando e obediência
- um modelo político de democracia representativa.
- uma participação isonômica dos cidadãos
- uma ausência de soberania no espaço cívico.
02. (Fuvest 2021) No texto do filósofo francês Maurice Merleau-Ponty é estabelecida uma conexão entre as relações sociais e a racionalidade dos indivíduos:
A sociedade humana não é uma comunidade de espíritos racionais, só se pode compreendê-la assim nos países favorecidos, em que o equilíbrio vital e econômico foi obtido localmente e por certo tempo.
Maurice Merleau-Ponty, Fenomenologia da percepção, p.89.
Qual sentença, se tomada como verdadeira, reforça a posição exprimida pelo filósofo no trecho?
- A racionalidade é uma potência espiritual que se impõe sobre as circunstâncias históricas.
- O equilíbrio vital e econômico é uma força irracional que se contrapõe aos espíritos racionais.
- Nos países favorecidos, as pessoas são naturalmente mais racionais.
- A racionalidade das relações sociais depende da estabilidade de circunstâncias históricas.
- Os espíritos racionais são responsáveis pelo equilíbrio vital e econômico dos países favorecidos.
03. (Fuvest 2017) Em relação à ética e à justiça na vida política da Grécia Clássica, é correto afirmar:
- Tratava-se de virtudes que se traduziam na observância da lei, dos costumes e das convenções instituídas pela pólis.
- Foram prerrogativas democráticas que não estavam limitadas aos cidadãos e que também foram estendidas aos comerciantes e estrangeiros.
- Eram princípios fundamentais da política externa, mas suspensos temporariamente após a declaração formal de guerra.
- Foram introduzidas pelos legisladores para reduzir o poder assentado em bases religiosas e para estabelecer critérios racionais de distribuição.
- Adquiriram importância somente no período helenístico, quando houve uma significativa incorporação de elementos da cultura romana.
04. (Fuvest 2023) “Todos os homens, por natureza, tendem ao saber. Sinal disso é o amor pelas sensações. De fato, eles amam as sensações por si mesmas, independentemente de sua utilidade e amam, acima de todas, a sensação da visão. Com efeito, não só em vista da ação, mas mesmo sem nenhuma intenção de agir, nós preferimos o ver, em certo sentido, a todas as outras sensações. E o motivo está no fato de que a visão nos proporciona mais conhecimento do que todas as outras sensações e nos torna manifestas numerosas diferenças entre as coisas”.
Aristóteles. Metafísica, São Paulo: Loyola, 2002.
Nessa passagem, a tese principal apresentada por Aristóteles é a de que “todos os homens, por natureza, tendem ao saber”.
Com base na construção do argumento, descrever a sensação da visão tem, como função principal, a seguinte tarefa:
- Delimitar a tese, mostrando que o conhecimento se dá sobretudo nas sensações.
- Explicar a tese, mostrando qual o significado da tendência ao conhecimento.
- Refutar a tese, mostrando que o amor às sensações se sobrepõe à tendência ao saber.
- Deduzir consequências da tese, mostrando as implicações da tendência humana ao saber.
- Sustentar a tese, mostrando que o privilégio dessa sensação se deve à sua relação com o saber.
05. (Fuvest 2021) TEXTO PARA A QUESTÃO.
A escrita faz de tal modo parte de nossa civilização que poderia servir de definição dela própria. A história da humanidade se divide em duas imensas eras: antes e a partir da escrita. Talvez venha o dia de uma terceira era — depois da escrita. Vivemos os séculos da civilização escrita. Todas as nossas sociedades baseiam-se no escrito. A lei escrita substitui a lei oral, o contrato escrito substitui a convenção verbal, a religião escrita se seguiu à tradição lendária. E sobretudo não existe história que não se funde sobre textos.
Charles Higounet. A história da escrita. Adaptado.
A escrita poderia servir de definição da nossa civilização, uma vez que
- a terceira era está prestes a acontecer.
- o escrito respalda as atividades humanas.
- as convenções verbais substituíram o escrito.
- a oralidade deixou de ser usada em períodos remotos.
- os textos pararam de se modificar a partir da escrita.
06. (Fuvest 2023) “Mas não medimos os tempos que passam, quando os medimos pela sensibilidade. Quem pode medir os tempos passados que já não existem ou os futuros que ainda não chegaram? Só se alguém se atrever a dizer que pode medir o que não existe! Quando está decorrendo o tempo, pode percebê-lo e medi-lo. Quando, porém, já estiver decorrido, não o pode perceber nem medir, porque esse tempo já não existe”.
Santo Agostinho. Confissões.
O tempo físico e o tempo psicológico se diferenciam na medida em que o primeiro se firma na objetividade e o segundo, na subjetividade.
De acordo com os argumentos de Santo Agostinho, pode-se dizer que, no romance Angústia, de Graciliano Ramos, a passagem que melhor exprime a duração interior é:
- “– 1910. Minto, 1911. 1911, Manuel?”
- “Os galos marcavam o tempo, importunavam mais que os relógios.”
- “Julião Tavares ia afastar-se, dissipar-se, virar neblina.”
- “Mas no tempo não havia horas.”
- “O espírito de Deus boiava sobre as águas.”
07. (Fuvest 2023) O filósofo David Hume apresenta a seguinte relação entre sensações (ou, em suas palavras, sentimentos) e ideias:
“Em suma, todos os materiais do pensamento são derivados do nosso sentimento externo e interno. Apenas a mistura e composição destes materiais compete à mente e à vontade. Ou, para me expressar em linguagem filosófica, todas as nossas ideias ou percepções mais fracas são cópias das nossas impressões, ou percepções mais vívidas”.
HUME, David. Investigação sobre o entendimento humano. Lisboa: Imprensa Nacional / Casa da Moeda, 2002.
É possível tornar mais clara a concepção de Hume vinculando-a a fatos cotidianos.
Qual situação confirma a relação proposta no excerto?
- Algumas pessoas não sabem de onde vêm os seus sonhos.
- Uma pessoa com boa memória pode se lembrar mais facilmente das suas ideias.
- Uma pessoa que nunca experimentou guaraná não pode ter ideia do seu sabor.
- É possível manter a ideia de um cavalo alado por muito tempo na mente.
- Comer uma maçã envolve experiências sensoriais.
08. (Fuvest 2008) No início do século XVI, Maquiavel escreveu O Príncipe – uma célebre análise do poder político, apresentada sob a forma de lições, dirigidas ao príncipe Lorenzo de Médicis. Assim justificou Maquiavel o caráter professoral do texto:
Não quero que se repute presunção o fato de um homem de baixo e ínfimo estado discorrer e regular sobre o governo dos príncipes; pois assim como os [cartógrafos] que desenham os contornos dos países se colocam na planície para considerar a natureza dos montes, e para considerar a das planícies ascendem aos montes, assim também, para conhecer bem a natureza dos povos, é necessário ser príncipe, e para conhecer a dos príncipes é necessário ser do povo.
Tradução de Lívio Xavier, adaptada.
Ao justificar a autoridade com que pretende ensinar um príncipe a governar, Maquiavel compara sua missão à de um cartógrafo para demonstrar que
- o poder político deve ser analisado tanto do ponto de vista de quem o exerce quanto do de quem a ele está submetido.
- é necessário e vantajoso que tanto o príncipe como o súdito exerçam alternadamente a autoridade do governante.
- um pensador, ao contrário do que ocorre com um cartógrafo, não precisa mudar de perspectiva para situar posições complementares.
- as formas do poder político variam, conforme sejam exercidas por representantes do povo ou por membros da aristocracia.
- tanto o governante como o governado, para bem compreenderem o exercício do poder, devem restringir-se a seus respectivos papéis.
09. (Fuvest 2023) TEXTO PARA A QUESTÃO
O QUINTO IMPÉRIO
Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz —
Ter por vida a sepultura.
Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.
Grécia, Roma, Cristandade,
Europa — os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?
Fernando Pessoa. Mensagem.
De acordo com o texto, a ideia de felicidade, também nuclear em outros poemas de Mensagem,
- alimenta as aspirações humanas.
- compreende-se como superação da morte
- identifica-se com o destino heroico.
- compõe a mediocridade cotidiana.
- situa-se como finalidade da existência.
10. (Fuvest 2005) “Vendo Sólon [que] a cidade se dividia pelas disputas entre facções e que alguns cidadãos, por apatia, estavam prontos a aceitar qualquer resultado, fez aprovar uma lei específica contra eles, obrigando-os, se não quisessem perder seus direitos de cidadãos, a escolher um dos partidos”.
Aristóteles, em A Constituição de Atenas
A lei visava
- diminuir a participação dos cidadãos na vida política da cidade.
- obrigar os cidadãos a participar da vida política da cidade.
- aumentar a segurança dos cidadãos que participavam da política.
- deixar aos cidadãos a decisão de participar ou não da política.
- impedir que conflitos entre os cidadãos prejudicassem a cidade.
11. (Fuvest 2023) TEXTO PARA A QUESTÃO
O QUINTO IMPÉRIO
Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz —
Ter por vida a sepultura.
Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.
Grécia, Roma, Cristandade,
Europa — os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?
Fernando Pessoa. Mensagem.
Mensagem reconduz a história de Portugal a partir de uma reinterpretação do tempo histórico.
No poema, o tempo é encarado segundo uma concepção
- nostálgica, devido à presença de modelos situados no passado.
- materialista, por efeito da aspiração burguesa de um lar confortável.
- mística, em razão do prognóstico de um futuro metafísico.
- biológica, por mérito da aceitação do ciclo natural da existência.
- psicológica, em virtude da referência ao substantivo “sonho”.